O corpo é um receptor, pois é por ele que todas as informações externas são percebidas, absorvidas e analisadas. Jesus Moreno (2018) faz esta analogia entre o corpo e um rádio, centrando sua análise nas relações transmissor-receptor/codificação-decodificação. Meu interesse neste processo consiste em reconhecer o corpo como receptor, naquele que as informações são recebidas, e de como processamos nossas respostas através da análise desses dados. Neste processo, o material (receptor) e imaterial (informação), produzem uma série de relações entre (sempre o entre) a identificação da informação coletada e a análise (processamento).
Jesus Moreno (2018) continua sua análise comparando o processo de percepção e reconhecimento do som ao espaço de ateliê em sua ligação com a produção do artista residente. Na percepção de sua produção como resultado da absorção e processamento de informações captadas externa e internamente pelo artista enquanto ocupa aquele espaço. Me interesso por esta relação entre o espaço físico e o não-espaço informacional, aquele que não é o corpo, senão espaço, condição da matéria.
Na filosofia indígena, palavras de Davi Kopenawa (2004) e do povo Marubo, o corpo é uma maloca. Nele habitam dois duplos próprios de cada ser, um que reside no peito pensar (está no local do coração) e outro no olho, ambos são responsáveis por nossa subjetividade. Este corpo acolhe ainda diversos outros duplos, tais duplos podem ser entendidos como concentrações de energia do mundo “espiritual” (não sendo o que entendemos por espíritos) que continuam no plano terreno por não terem completado o caminho necessário para que cada duplo complete sua linha evolutiva. Uma dessas etapas é o caminho morte, onde estes duplos enfrentam uma série de provas a fim de alcançarem a iluminação ou o reconhecimento dos espíritos antigos da natureza. Ao associar a filosofia indígena sobre o corpo com a ideia de Jesus Moreno (2018) sobre a relação entre transmissão e recepção, encontro o espaço inerente ao corpo como local de ocupação e o reconhecimento do mesmo como dispositivo receptor, direciono então minha produção ao autoconhecimento do corpo naqueles que o habitam. O não-espaço percebido em cada habitante.
Este projeto é um reconhecimento e reorganização de minha produção sob tais aproximações, no corpo habitado e no caminho percorrido. Decodificando em imagens o resultado das análises sobre cada uma dessas perspectivas, produzindo um espaço de recepção e transmissão de informações: entre mim e as obras; entre as obras e o espaço de exposição; entre o espaço e os receptores.
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